domingo, 11 de maio de 2014

Normas de Transcrição

Olá galerinha linda, como vão?
Voltei pra postar uma tabelinha muito legal. Como estávamos estudando a relação ente oralidade e escrita, achei legal mostrar pra vocês uma tabela com normas para transcrição de um texto oral para o escrito. Bem interessante!!


OCORRÊNCIAS
SINAIS
EXEMPLIFICAÇÃO
Incompreensão de palavras ou segmentos
(  )
Do nível de renda ( ) nível de renda nominal
Hipótese do que se ouviu
(hipótese)
(estou) meio preocupado (com o gravador)
Truncamento (havendo homografia, usa-se acento indicativo da tônica e/ou timbre)
/
E comé / e reinicia
Entonação enfática
Maiúscula
Porque as pessoas reTÊM moeda
Prolongamento de voga ou consoante como (s,r)
:: podendo aumentar para mais :::::::
Ao emprestarem éh :::... o dinheiro
Silabação
-
Por motivo tran-as-ção
Interrogação
?
E o Banco... Central... certo?
Qualquer pausa
...
São três motivos... ou três razões...que fazem com que se retenha a moeda... existe uma retenção
Comentários descritivos do transcritor
((minúscula))
((tossiu))
Comentários que quebram a sequencia temática da exposição; desvio temático.
--      --
... a demanda de moeda --vamos dar essa notação – demanda de moeda por motivo
Indicação de que a fala foi tomada ou interrompida em determinado ponto. Não no seu início, por exemplo
(...)
(...) nós vimos que existem
Citações literais ou leituras
de textos, durante a gravação
“ ”
Pedro Lima...ah escreve
na ocasião... “O cinema falado em língua estrangeira não precisa de nenhuma baRREIra entre nós”...

OBSERVAÇÕES:
1. Iniciais maiúsculas: só para nomes próprios ou para siglas (USP etc.)
2. Fáticos: ah,éh, ahn, ehn, uhn, tá (não por está: tá? você está brava?)
3. Nomes de obras ou nomes comuns estrangeiros em itálico.
4. Números: por extenso.
5. Não se indica o ponto de exclamação (frase exclamativa)
6. Não se anota o cadenciamento da frase.
7. podem-se combinar sinais. Por exemplo: oh:::...(alongamento e pausa).
8. Não se utilizam sinais de pausa, típicos da língua escrita, como ponto- e vírgula,
ponto final, dois pontos, vírgula. As reticências marcam qualquer
tipo de pausa.

Essa tabela foi retirada do livro: Fala e Escrita em Questão de Dino Pretti.

Legal né pessoal, agora podemos escrever textos orais corretamente. Valeu pessoal!!
                                                                                       Abraços, Karina C.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Planejamentos de conversação de Leonor Fávero

Hoje irei falar sobre os quatro de planejamento de conversação que Leonor Fávero aponta. São eles:

Falado não planejado: É repentino, não pensado, um ato do momento. Exemplos seria uma discussão, uma conversa no elevador, conversa entre amigos, entre outros.

Trouxe pra vocês um exemplo que seria uma conversa no elevador:


Falado planejado: É pensado antes de ser pronunciado, falado para outras pessoas. Exemplos seria uma aula pelo professor, um workshop, uma palestra e etc
Trouxe como exemplo um anunciante de um produto:


Escrito não planejado: Um texto que é usado em situações comuns do dia, quando há a necessidade da escrita. Exemplos seria um bilhete, as redes sócias, etc
Trouxe como exemplo um bilhete:


Escrito planejado: Um texto que é pensado antes de ser transmitido. Exemplos um conto, uma narrativa, história, solicitações, etc
Um exemplo é esse blog de contos curtos que gostei bastante:

Conto especial de Guimarães Rosa, Famigerado.

Famigerado
Guimarães Rosa

Foi de incerta feita — o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranqüilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.

Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados, de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavaleiro esse — o oh-homem-oh — com cara de nenhum amigo. Sei o que é influência de fisionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.

Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografia. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.

Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:

"Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada..."

Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.

— "Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras... Estou vindo da Serra..."

Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mortes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:

— "Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso... Saiba que estou com ele à revelia... Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade... O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado..."

Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.

O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, inseqüentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:

— "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-megerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?

Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— "Saiba vosmecê que saí ind'hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro..."

Se sério, se era. Transiu-se-me.

— "Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo — o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam... A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?"

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

 Famigerado?

— "Sim senhor..." — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— "Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho..."

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

 Famigerado é inóxio, é "célebre", "notório", "notável"...

— "Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?"

— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos...

— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?"

 Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito...

— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?"

Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:

— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!...

— "Ah, bem!..." — soltou, exultante.

Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — "Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição..." — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d'água. Disse: — "Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!" Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — "Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não..." Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — "A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças... Só pra azedar a mandioca..." Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.


by Paulo Oliveira

sábado, 3 de maio de 2014

GÍRIAS

Sobre a aula de Teorias do Texto em que introduzimos o assunto de textos escritos e orais, pesquisei e achei um livro que discorre bastante sobre o assunto. 
E um dos capítulos trata sobre as gírias em textos escritos.


De acordo com o autor Dino Preti , "os primeiros documentos com gíria parecem datar do século XV na França, em textos que nos remetem à linguagem de marginais e mascates, durante o conturbado período histórico que se seguiu à Guerra dos Cem Anos. 

Os estudos mais significativos sobre gíria só vão surgir  em fins do século XIX, de fato só em 1980, Queirós Veloso publica num artigo seu a primeira lista de gíria portuguesa com 1355 vocábulos.

 O primeiro grande problema do pesquisador é a delimitação de seu campo de pesquisa. O fenômeno gírio só pode ser estudado sob duas perspectivas: a primeira, a da chamada gíria de grupos sociais restritos como por exemplo grupos jovens ligados à dança, à música, ao esporte, ou, os grupos que estabelecem conflitos com a sociedade, como grupos comprometidos por drogas, prostituição, crimes. Na segunda perspectiva, a da gíria comum, é a que estuda a vulgarização do fenômeno, como as gírias entram em contato com a sociedade " 

Legal né pessoal, saber que existe até mesmo um estudo especial para as famosas gírias! Embora seja um campo mais difícil de se estudar, as gírias revelam muitas informações como por exemplo a diferença de classes sociais  entre outras. 
Aqui só coloquei alguns trechos mas se quiserem saber mais sobre o assunto aqui está o link do livro digitalizado: Fala e Escrita em questão, o capítulo que trata sobre a gíria é, A GÍRIA NA LÍNGUA FALADA E NA ESCRITA: UMA LONGA HISTÓRIA DE PRECONCEITO SOCIAL.






É isso aê galera, "é nóis" e até a próxima. Abraços Karina C.


Análise de Discurso x Análise de Conteúdo

Olá galerinha,

Estava estudando sobre Análise de Discurso em casa referente à uma uma de Teorias do Texto e encontrei um artigo bem interessante sobre as diferenças entre Análise de Discurso e Análise de Conteúdo. 
Vou destacar bem resumidamente os trechos mais interessantes. 

Análise do Discurso - da linha francesa

"A Análise do Discurso não é uma metodologia, é uma disciplina de interpretação.
O processo de análise discursiva tem a pretensão de interrogar os sentidos estabelecidos em diversas formas de produção, que podem ser verbais e não verbais.
A AD trabalha com o sentido e não com o conteúdo do texto, um sentido que não é traduzido,mas produzido; Portanto, na AD a linguagem vai além do texto, trazendo sentidos pré-construídos que são ecos da memória do dizer."

Memória do dizer: é o "interdiscurso, memória coletiva constituída socialmente; o sujeito tem a ilusão de ser dono do seu discurso e de ter controle sobre ele, porém não percebe estar dentro de um contínuo, porque todo o discurso já foi dito antes."

Análise de Conteúdo

"A Análise de Conteúdo (AC) surgiu no início do século XX nos Estados Unidos para analisar o material jornalístico, ocorrendo um impulso entre 1940 e 1950, quando os cientistas começaram a se interessar pelos símbolos políticos, tendo este fato contribuído para seu desenvolvimento; entre 1950 e 1960 a AC estendeu-se para várias áreas.12 Portanto, esta técnica “existe há mais de meio século em diversos setores das ciências humanas”, sendo anterior a Análise de Discurso. A definição da AC em 1943 era como sendo “a semântica estatística do discurso político” "

Diferenças entre Análise do Discurso (AD) e Análise de Conteúdo (AC)


"A maior diferença entre as duas formas de análises é que a AD trabalha com o sentido e não
com o conteúdo; já a AC trabalha com o conteúdo, ou seja, com a materialidade linguística através das condições empíricas do texto, estabelecendo categorias para sua interpretação. Enquanto a AD busca os efeitos de sentido relacionados ao discurso, a AC fixa-se apenas no conteúdo do texto, sem fazer relações além deste. A AD preocupa-se em compreender os sentidos que o sujeito manifesta através do seu discurso; já a AC espera compreender o pensamento do sujeito através do conteúdo expresso no texto, numa concepção transparente de linguagem."


E aí galera, bem interessante não é? Saber que as análises sobre um texto podem ser bem diferentes. São pontos de vistas diferentes. 
Gostaram? Só Comentar! Se tiverem alguma crítica ou sugestão também, só comentar.

 Fica aqui o link do artigo completo: Diferenças entre Análise do Discurso e Análise de Conteúdo
                                                                  



                                                                                                     Abraços, Karina C.