domingo, 30 de março de 2014

A Vaguidão Específica

                                                          -Millôr Fernandes

- Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.
- Junto com as outras?
- Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.
- Sim senhora. Olha, o homem está aí.
- Aquele de quando choveu?
- Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.
- Que é que você disse a ele?
- Eu disse pra ele continuar.
- Ele já começou?
- Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.
- É bom?
- Mais ou menos. O outro parece mais capaz.
- Você trouxe tudo pra cima?
- Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.
- Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.
- Está bem, vou ver como.
Na Fase da Gramática Textual, este texto acima não poderia ser considerado texto, pois seriam "sequências linguísticas incoerentes entre si." Mas com o surgimento da Fase de Teoria do Texto isso mudou, porque nessa fase a noção de texto é completamente diferente. 
Portanto, a falta de referências no texto, não impossibilita a comunicação dos personagens, pois a proposta do autor é a de que a situacionalidade preencha as lacunas referenciais entre os personagens. 

Ou seja, um texto pode fazer sentido para uns, e para outros não.

Legal, como podemos compreender esse texto mesmo com a falta de vários referenciais, isso porque podemos imaginar várias situações diferentes onde esse diálogo encaixaria perfeitamente.

                                                                                        Abraços, Karina Carvalho.



                                                                                                                     

Nenhum comentário:

Postar um comentário